Os sonhos lúcidos de Abayomi, o oneironauta
E escrevendo meus pensamentos, também me comunicava com meus autores, pois se somos histórias contadas pelo sonho de outros que nos sonham e nos contam da mesma forma que sonho e conto minhas histórias é possível que possa me comunicar com esses sonhadores através desses sonhos lúcidos, ou seja, através da literatura.
Este é um trecho do romance "Santos-Dumont número 8". No livro, "sonho lúcido" é usado como uma metáfora de "Literatura". Mas, será que é somente isso? Eu mesmo tenho minhas dúvidas. Quando Abayomi lê os livros, ele sonha, e através de seus sonhos lúcidos, as histórias que os livros contam, acontecem novamente, mas de uma forma estranha, mais clara, mais lúcida, como se Abayomi conseguisse sonhar o que as histórias segredam de suas entrelinhas. Em um outro trecho, Abayomi está intrigado com um sentimento que parece lhe ser sugerido por certo diário...
... Deles vinha uma voz, um pensamento talvez, que parecia insistir em indicar um caminho: Seja bem-vindo, aproxime-se, pegue uma cadeira, sente-se, abra um desses diários e faça com que todas essas coisas aconteçam novamente...
A definição de sonhos lúcidos é: um tipo de sonho cuja percepção consciente de se estar sonhando resulta em uma experiência muito mais clara - por isso o termo lúcido - permitindo, muitas vezes, um controle direto sobre as atividades e o conteúdo deste sonho.
O termo foi criado por um psiquiatra holandês chamado Frederik van Eeden em seu livro "A Study of Dreams" de 1913, mas existem referências a esse tipo de experiência em relatos tão antigos quanto os existentes no Antigo Testamento ou em cartas de Santo Agostinho.
Segundo uma outra personagem do Santos-Dumont número 8, Carolina Veríssimo, a atitude de Abayomi ler livros pode lhe fazer muito mal à saúde (já que dentro da cabeça de Abayomi, os tempos se encontram e, juntos, são capazes de promover rememorações do passado, e por mais incrível que pareça, do presente e até do futuro).
O que não é pouca coisa, pois enquanto Abayomi lê os livros, as causas das histórias que eles contam, passam a ser buscadas e não postuladas, o que pode de fato fazer muito mal à saúde de seu leitor, ou seja, Abayomi, o oneironauta.