Vonnegut , Bohm, Pribram, Santo Agostinho e o Tempo (tríbio) em Santos-Dumont Número 8 (*)
Não posso negar uma certa influência de Kurt Vonnegut em Santos Dumont Número 8 (principalmente por Matadouro 5, seu livro de 1969). Pensando um pouco mais sobre o assunto, chego à conclusão de que é bem possível que o trabalho de Vonnegut possa também ter sido influenciado pelas pesquisas dos doutores Bohm e Pribram (assistam Quem somos nós?). O físico David Bohm, que chegou a trabalhar com Einstein em Princeton, argumentava: "O passado está ativo no presente como um tipo de ordem implícita". Sua teoria contribuiu para a criação do modelo holonômico de funcionamento do cérebro do neurocientista Karl Pribram, de Standford.
Eis então, que a lemniscata se fecha: a visão do tempo tríbio (Gilberto Freyre também é referência) no romance Santos-Dumont Número 8, como no trecho "O que se originava no futuro atravessava inapelavelmente o presente, mergulhava inexoravelmente no passado e dele retornava imprevisível...", também recebe a influência dos dois cientistas (assim como dos questionamentos de Santo Agostinho a respeito do tempo). Tudo está interligado. No fundo, somos mesmo links ambulantes.
"No conceito enganoso dos calendários que se alimentam de fatiar o tempo", Vonnegot mergulhou no passado (para de lá sempre retornar imprevisível) na última quarta, 11 de abril de 2007.
À influência de Vonnegut, deixo aqui como homenagem (e agradecimento) um trecho do capítulo 1 do romance Santos-Dumont Número 8:
"Em poucos minutos, no conceito enganoso dos relógios que se alimentam do esvair-se das horas, contagem regressiva que é da morte, eu, Francisco Abayomi, literalmente desaparecerei bem diante dos olhos de Carolina e navegarei o fluxo, aquele que se origina no futuro, atravessa inapelavelmente o presente e mergulha inexoravelmente no passado. Assim, dessa forma, um destino deverá ser cumprido. Não posso ter certeza agora, mas acho que no momento certo pensarei, como outras tantas vezes já pensei, em voz alta, está bem, que se cumpra, então, o meu destino e que o número 8 seja escrito novamente… da mesma forma que esses sonhos que parecem não terminar nunca, pois outros antes de mim já os sonharam, e se agora os sonho, é bem certo que outros no futuro continuarão a sonhá-los em progressão, cada vez mais profundamente em sua abrangência, como a espiral logarítmica de uma concha de náutilo, ou de uma flor de girassol, uma seqüência de Fibonacci, tão freqüente em sua aparição na natureza assim como o número 8, o dois elevado ao cubo, a perspectiva de um número 23..."
(*) Publicado originalmente em A última biblioteca, em 13 de abril de 2007
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