Seguidores

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

O início do Santos-Dumont Número 8

Que toda história tem um começo, um meio e um fim pode ser certo... ou quase certo...

Algumas pessoas me comentam terem ficado surpresas com o início (estonteante) do romance Santos-Dumont Número 8. Isso é bom. A intenção era essa mesmo: aqui entramos em uma outra dimensão, a turbulência da passagem é mesmo necessária. Depois, aceitando o pacto proposto a tendência é que se siga um fluxo, ou fluxos, não menos estonteantes, de sentido e direção opostos. Mas, afinal de contas, não é para isso que serve a História?

A seguir, dou algumas explicações sobre o início do romance. Vamos lá:

A passagem pelo portal, o início do mergulho - aquele que de certa forma já esboça o que vem avassaladoramente a seguir - já está na primeira citação. Além de representar o tom meio transcedental da História, olhem só que coincidência interessante:

Ó Senhor, Senhor nosso, quão magnífico em toda a terra é o teu nome!
Pois expuseste
nos céus a tua majestade. (Salmo 8)

Exposta nos céus a Sua majestade, a pergunta que não quer se calar (e por todo o romance se faz presente), afinal, Toda História tem realmente um começo, um meio e um fim?

Isso pode ser quase certo. Por isso, para iniciar o romance, eu escolhi uma palavra não muito comum mas que, no fundo, todos conheceremos por sua representação simbólica.

A idéia do hipertexto ligando palavras, símbolos, livros, autores, histórias, mistérios, já se resume na palavra LEMNISCATA.

Lemniscata
é uma curva matemática descrita pela primeira vez em 1694 por Jakob Bernoulli como a modificação de uma elipse, uma outra curva que é formada por pontos cuja soma das distâncias até outros dois pontos focais fixos é constante (na lemniscata, o produto dessas distâncias é constante).

A lemniscata de Bernoulli é um caso especial da oval de Cassini.

O símbolo matemático de infinito tem a forma muito aproximada de uma lemniscata e foi descrita pela primeira vez pelo matemátio inglês John Wallis em 1655, ou seja, quase 40 anos antes de Bernoulli.

O que seria a História então? Nada mais do que uma lemniscata. A seguir o texto da primeira página do Santos-Dumont Número 8:



Lemniscata… Uma lemniscata de si mesma, assim é a História. Tão curvilínea e distorcida quanto aquela de Jakob Bernoulli. Tão sinuosa, sibilante e sensual quanto o símbolo infinito de John Wallis. Um número 8 deitado. Uma tira de Möbius esquisita e conveniente em sua constante transformação em si mesma.

Então, se é assim, que assim mesmo o seja, a História, essa lemniscata de todos nós. Esse insistente “navegar-se”, permanente e necessário, esse eterno recomeço, progressão e regressão ininterruptas, contínuo e inevitável retorno das
su-pers-ti-ções

Sabe por quê? Muito simples. Porque assim é a História e é para isso que ela serve… ou pelo menos quase…


Biblioteca Nacional.

Sala Celso Cunha. Divisão de Manuscritos.
Segunda-feira, 29 de setembro de 2008.

— Por que você resolveu abrir este livro? O que te deu na cabeça, hein?! Você não sabe que isso pode te fazer muito mal à saúde? Carolina Veríssimo não podia deixar de expressar um misto de angústia e preocupada reprovação com aquele verdadeiro bombardeio de perguntas.


— Mas, meu Deus, é apenas um livro. O que isso pode ter de mais? Justificativas, Francisco Abayomi as buscava no mais óbvio, porém, nem tanto…


— O que isso pode ter de mais?! Muita coisa, caramba! Ah, Abayomi, certas vezes, você me parece tão sem noção…


É possível, provável e justo que Carolina estivesse certa e que as coisas não fossem assim tão simples, como parecia querer fazer crer Francisco Abayomi. Afinal de contas, existiam as experiências e também os frutos, ainda mais estranhos, delas. O problema não estaria nos acontecimentos em si, mas no que poderia advir de tais acontecimentos, já que dentro da cabeça de Abayomi os tempos se encontravam e, juntos, eram capazes de promover rememorações do passado e, por mais incrível que parecesse, do presente e até do futuro. O que se originava no futuro atravessava inapelavelmente o presente, mergulhava inexoravelmente no passado e dele retornava, imprevisível como as pessoas, imprevisível como certos dias, aqueles que pareciam não querer terminar nunca mais… como uma lemniscata…




Nenhum comentário: