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domingo, 23 de julho de 2006

A "Carta de despedida de Santos-Dumont"

Essa é um mistério.

Em alguns sites pode ser encontrada uma "carta de despedida" de Santos-Dumont. Aqui temos um problema: a referência exata à divulgação original da carta não existe em lugar nenhum, apesar do seu conteúdo até ser coerente com o (muito pouco, podem ter certeza...) que sabemos sobre a personalidade e os sonhos, realizações e decepções do grande inventor em relação à sua ("maldita?", "beligerante?") invenção...

Façamos, por instantes, uma viagem de 74 anos ao passado. Estamos em um sábado, 23 de julho de 1932. Receberemos pelo rádio a notícia da morte do "Pai de Aviação", no quarto 152 do Grand Hotel La Plage no Guarujá. A causa de sua morte será escondida. Esperaremos o conflito acabar para podermos lhe prestar as devidas homenagens. O avião, indubitavelmente uma de suas grandes contribuição à história da humanidade, continuará sendo usado como um instrumento beligerante, inclusive para matar irmãos brasileiros.

A maior contribuição de Santos-Dumont (e essa nem a morte consegue apagar) será o espírito de colaboração entre os homens. Trabalho árduo e distribuição livre de conhecimento para o crescimento e avanço tecnológico e a aproximação entre os diferentes povos, para que um dia, melhor se compreendam.

A "Carta de despedida de Santos-Dumont" talvez não seja verídica (é até bem provável que não seja mesmo) , mas o seu conteúdo serve para fazer pensar.

Deixo com vocês, neste 23 de julho de 2006, a "carta". 74 anos após Santos-Dumont deixar a vida e definitivamente entrar na História.

Caso a "carta" não tenha sido escrita de fato por Alberto Santos-Dumont, não faz mal. Pelo menos um pouco de sua idéias e ideais poderão ser lembradas através dessas palavras. E que esta lembrança seja acompanhada de um sentimento de ESPERANÇA, pois esta, independente da "História", sempre se renova.

A seguir a "carta"...

Áqueles que compartilharam comigo a tristeza desta vida.

O que adianta senhores, viver e não interferir na vivência das pessoas? O que adianta passarmos nesta vida como uma flecha, rápida e imperceptível?

A verdade da vida consiste em fazermos parte, de atuarmos pelo bem do homem, e não como uma triste lembrança de mal agouro, que amarga os sonhos, assim como os ditadores do passado, a fome do presente e o pessimismo do futuro. Viver consiste no dia a dia, e não no amanhã. É atuar descompromissadamente a favor do próximo, pois já dizia o poeta "belo dar ao ser solicitado, porém é mais belo dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido".

Senhores, muito sofri. Fui utilizado como joguete, intensificando um panorama caótico e antropofágico. A escravização mental é um de nossos males, o apego ilimitável à materialidade nos corrompe, como a relva exposta ao fogo. Perdemos a noção do que é ético, pois a ética capitalista não preserva a existência da humanidade, ela é em si e por si. É a essência daquilo que de mal temos.

Onde, digam-me, podemos encontrar um refúgio, um subterfúgio, a fim de nos mantermos invulneráveis daquilo que nos aflige? No amor. No amor pelo próximo, no amor pela vida, no amor desapegado e sem interesse, pois daqui nada se leva, somente as boas (ou más) lembranças voluptuosas que levaremos para o Jardim do Éden, ou para algum lugar diametralmente oposto, mais profundo e odioso.

Como sabem, associam minha imagem à da daquele instrumento, que, doravante, o considero um mero instrumento supérfluo e de utilização, sobretudo beligerante. De quanto vale, pergunto-lhes, todo desenvolvimento tecnológico, se o homem não é a medida e o fim dessas coisas? Que ordem é essa que obriga o homem àquilo de mais desprezível e assustador? Se essa exacerbada materialidade nos conduz a um fim nocivo, por que tudo isso tornou um vício?

Senhores, despeço-me de vossas mercês deixando uma mensagem que sirva de ferramenta para, mesmo que minimamente, altere os seus dia-a-dias e suprima, a partir do momento em que tornem conscientizados de tais verdades, a corrupção do mundo: "O homem somente se faz homem na relação com o próximo. O alicerce nas relações é a confiança recíproca. E às vezes somos iludidos pela confiança, mas a desconfiança faz com que sejamos enganados por nós mesmos.

Alberto Santos Dumont

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